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Projeto de pesquisa coordenado por docente da UFTM avaliou o impacto da COVID-19 na gestação, parto e puerpério

Publicado: Terça, 27 de Abril de 2021, 09h36

 

O projeto intitulado “O impacto da COVID-19 na gestação, parto e puerpério”, coordenado pela professora Mariana Torreglosa Ruiz, em parceria entre UFTM e UFSCar, publica resultados em artigos científicos. O projeto foi contemplado com fomento pelo CNPq em chamada para o enfrentamento da COVID-19, desenvolvida em conjunto com Ministério da Saúde e da Ciência e Tecnologia.

O projeto teve como objetivo analisar as evidências disponíveis na literatura em 2020 sobre o impacto da infecção neste público-alvo, por meio de revisão dos estudos publicados no mundo todo. Por apresentar temas e momentos distintos do ciclo gravídico-puerperal, o grupo de estudo realizou buscas com temas e em tempos diferentes.

Gestantes, pelas próprias alterações fisiológicas da gravidez, apresentam riscos para adquirir infecções, principalmente respiratórias e, quando apresentam infecção podem apresentar formas graves ou evoluir com gravidade, por isso são consideradas grupo de risco e prioritário para assistência. “Além de pertencer ao grupo de risco, não há ainda tratamento efetivo ou imunização vislumbrados a esse público, sendo extremamente importante, nesse caso, medidas preventivas rigorosas para esse grupo, incluindo a educação em saúde e informações de qualidade”, justificou a coordenadora.

Primeiro estudo

No primeiro estudo, as buscas foram realizadas em julho de 2020, a respeito da transmissão vertical, que é o risco de a mãe transmitir a infecção para o neonato, ou seja, o recém-nascido. Foram avaliados 219 neonatos que nasceram no mundo todo. Os resultados apontaram baixo índice de neonatos infectados, entretanto a transmissão vertical não pode ser comprovada, pois exige testagem da PCR (exame para testar a COVID-19) em diferentes amostras.

Após as buscas, foi publicado um estudo na revista Nature (https://www.nature.com/articles/s41467-020-17436-6), comprovando um caso de infecção neonatal. Dessa forma, os pesquisadores atentam que a possibilidade de transmissão existe e não pode ser descartada.

Nesse mesmo estudo, verificou-se predomínio de partos operatórios (cesáreas), devido à descompensação respiratória materna ou sofrimento fetal causado pela má oxigenação; alta frequência de quadros de pneumonia entre as gestantes infectadas, sendo que a febre foi o principal sintoma apresentado, seguido pela tosse, fadiga, falta de ar e diarreia.

Observou-se aumento de nascimentos prematuros e houve boa evolução dos neonatos, mesmo entre os infectados, sendo os óbitos neonatais secundários à prematuridade e não associados à infecção.

O estudo foi aceito e será publicado no suplemento especial da Revista Brasileira de Enfermagem, e encontra-se na fase de editoração final.

Segundo estudo

No segundo estudo, realizado pelo grupo em agosto de 2020, buscou-se identificar o perfil das gestantes infectadas. Foram analisados dados de 685 gestantes que tiveram a COVID-19 no mundo todo.

De forma geral, houve predomínio de casos em mulheres com idade superior a 30 anos, que se infectaram principalmente no terceiro trimestre gestacional (final da gestação) e os quadros mais graves foram associados a mulheres que possuíam comorbidades, sendo as principais a obesidade, o diabetes gestacional e o tipo 2, a hipertensão arterial e a asma.

O estudo também confirmou altos índices de prematuridade e os casos de aborto foram resultados de formas graves da infecção no primeiro trimestre (início da gestação), associados à pneumonia. A maioria das gestantes e puérperas recebeu alta em bom estado geral. Esse estudo foi aceito e será publicado na próxima edição do periódico International Journal of Nursing Practice.

Embora com boa evolução dos quadros, as pesquisadoras refletem que o Brasil apresenta altas taxas de óbitos maternos em decorrência da COVID-19, quando comparadas a dados internacionais. “A literatura aponta  associação entre o aumento da mortalidade materna e pandemia pela COVID-19 pode ser justificada pela hesitação da gestante em procurar assistência, por medo da doença; problemas financeiros e/ou de transporte que dificultam o acesso aos serviços de saúde; isolamento materno de gestantes infectadas  em regiões distantes, que comprometem o atendimento em tempo hábil, em quadros graves; baixa adesão às consultas pré-natais; redução de consultas, suprimentos e profissionais de saúde, comprometendo a qualidade assistencial”, exemplifica Torreglosa. Dessa forma, a mortalidade materna secundária à COVID-19 demonstra as disparidades das minorias e a população vulnerável. Dados do observatório brasileiro de COVID-19 na gestação e puerpério apontam 893 óbitos em decorrência da infecção, sendo que destes, 311 foram em puérperas (35%) e 582 (65%) ocorreram na gestação. Os dados podem ser acessados pelo link: https://observatorioobstetrico.shinyapps.io/covid_gesta_puerp_br/

Terceiro estudo

No terceiro estudo, realizado concomitantemente, buscou-se avaliar o tratamento das mães acometidas pela COVID-19. Foram inclusos no estudo análise de 594 gestantes infectadas.

Observou-se que pequena parcela das gestantes necessitou de oxigênio e número inferior necessitou de ventilação mecânica (intubação) e foram monitoradas em CTI. Os medicamentos mais utilizados no tratamento foram: antibióticos, antivirais e corticoides. “Não se encontraram protocolos ou padronização de medicamentos no tratamento da gestante com COVID-19, algo que se faz necessário e urgente para prevenção dos óbitos maternos. Este estudo encontra-se em avaliação em um periódico nacional”, complementou Mariana.

Quarto estudo

O quarto estudo visou avaliar a possiblidade de infecção no puerpério (período pós-parto). Nesse último estudo, realizado em novembro de 2020, identificaram-se 21 casos de COVID-19 no puerpério relatados no mundo.

A revisão apontou a possibilidade da infecção pela COVID-19 no período puerperal ou a exacerbação ou piora nesse período. Indicou-se a necessidade de avaliação rigorosa de sinais e sintomas, exploração diagnóstica acurada, e a importância de se manter acompanhamento próximo no período puerperal de mulheres diagnosticadas com COVID-19, sintomáticas ou não. O estudo foi aprovado e será publicado na Revista de Enfermagem da UERJ, encontra-se também em fase de editoração final, já sendo possível consultar o resumo pelo link: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/56037

Resultados nas redes sociais

Desde novembro de 2020, os pesquisadores buscam, por meio de projeto de extensão, traduzir os resultados da pesquisa de forma simples e ilustrada, por meio de redes sociais @nascer.e.covid. O projeto conta com as pesquisadoras, acadêmicos e pós-graduandos das duas universidades. A equipe maior, formada pelos diferentes segmentos da UFTM, já realizou um Webinar, uma videoconferência com intuito educacional, que abordou os resultados da pesquisa, e um curso de capacitação sobre a temática, buscando ampliar a difusão das informações.

“Acreditamos que por ser grupo de risco, com alta taxa de mortalidade no nosso país, pelo impacto na saúde do neonato e por não ser um grupo contemplado como prioritário para imunização, o conhecimento deste perfil é imprescindível para assistência de qualidade e para embasamento das políticas públicas. Mas além disso, faz-se necessário a popularização dessas informações para alerta e maior adesão às medidas preventivas para esse público tão vulnerável a essa doença. Não dá para mensurar o impacto de uma perda fetal para uma tentante, o medo de uma gestante, o impacto da prematuridade para a família e para o próprio neonato, não só neste momento, mas ao longo da sua vida, muito menos o impacto de um óbito materno na vida dessas crianças, que nunca deveriam ser privadas do cuidado materno” concluiu a professora da UFTM.

 

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