Interação entre Universidade e grupo empresarial gera nova tecnologia para a agricultura
Pesquisa recebeu apoio do Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas – RHAE, criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e CNPq. Produto deve chegar ao mercado em 2017 e é destinado ao controle biológico da Lagarta do Cartucho do Milho.
A interação entre a UFTM, órgãos de fomento à pesquisa e um grupo empresarial gerou resultados positivos para a agricultura. Uma nova tecnologia de controle biológico para a Lagarta do Cartucho do Milho (Spodoptera frugiperda), a principal praga da cultura do milho e que pode reduzir a produção do grão, deve ser lançada no mercado no próximo ano e promete oferecer uma solução saudável, sem riscos para o meio ambiente. Além disso, a parceria entre o grupo empresarial e Universidade trouxe como reflexo a geração de empregos.
A proposta da pesquisa, que levou a geração da nova tecnologia, surgiu por meio de uma demanda do empresário Paulo César Manara Bittar, farmacêutico industrial e especialista em homeopatia. O empresário, que atua no mercado desde 1997, buscava ampliar as áreas de atuação de sua empresa, até então focada em farmácia homeopática e produção de medicamentos homeopáticos para a pecuária. A ideia era estender os negócios para a aplicação na agricultura. “Somos uma empresa voltada para a Saúde Limpa. Iniciamos aplicando essa missão na pecuária e, em 2012, decidimos levar essa tecnologia para a agricultura. Após prospecção, encontramos a Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas. O pesquisador Fernando Hercos Valicente sugeriu trabalharmos com o controle biológico de pragas para a Lagarta do Cartucho do Milho, fazendo seu controle por meio de um vírus”, explicou o empresário.
Com a proposta da pesquisa em mente, era preciso buscar formas de desenvolver a nova tecnologia. Em 2012, a proposta foi aprovada em um edital de inovação do Senai e foi iniciado o desenvolvimento do projeto. Em 2013, o empresário o inscreveu no Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas – RHAE, criado em parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Após a aprovação do projeto, foi firmado um Acordo de Cooperação Técnica entre a UFTM e o grupo empresarial. “Fizemos o projeto para obter apoio pelo RHAE. Resumidamente, o programa oferece bolsas de fomento tecnológico para agregar pessoal altamente qualificado em atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas, além de formar e capacitar recursos humanos que atuem em projetos de pesquisa aplicada ou de desenvolvimento tecnológico. Conseguimos bolsas para professores doutores, juntamente com alguns estagiários”, acrescentou Paulo.
Durante a realização da pesquisa, cada especialista da UFTM desempenhou um papel. “Os pesquisadores da UFTM envolvidos no projeto são as professoras Mônica Hitomi Okura, que dá suporte ao processo industrial envolvendo microbiologia, determinação de padrões de produção e diversas ações relacionadas; o professor Luís Carlos de Morais, doutor na área química, que trabalhou na formulação e adequação do produto a ser lançado no mercado, com melhorias em relação à formulação original; e o professor André Luís Pedrosa, responsável pela parte de Biologia Molecular, que focou o trabalho em questões como avaliação do perfil genético do microrganismo utilizado, pois o que mata a lagarta é um vírus (Baculovirus spodoptera), e em metodologias industriais diversas. A interação entre empresa e Universidade trouxe um suporte muito grande para o projeto, que está em fase final e deve lançar seu primeiro produto no mercado ainda em 2017. Essa inovação, além de gerar empregos, vai trazer para o mercado um produto mundialmente inédito para atacar um problema que os inseticidas convencionais e os transgênicos não conseguiram resolver a contento”, completou Paulo.
Interação entre pesquisa, Universidade e mercado de trabalho
Em 2013, o grupo empresarial tinha a estrutura física para começar o desenvolvimento em escala piloto. O biomédico, Wesley Botelho Sousa, atuava como bolsista no desenvolvimento do projeto no grupo empresarial e conta que o desenvolvimento da pesquisa trouxe a possibilidade de ingressar em um programa de mestrado. “Desde o final da graduação, tinha o interesse em entrar no mestrado. Como acompanhava a pesquisa, desenvolvi um projeto relacionado ao tema, na terceira tentativa consegui entrar no Programa de Mestrado Profissional em Inovação Tecnológica da UFTM. No mestrado, que tem o foco mais voltado para o mercado, pude desenvolver meu projeto e aprimorar as técnicas de trabalho. Hoje sou gerente da biofábrica. Atuo neste projeto há aproximadamente quatro anos e, desde que recebemos a metodologia padrão da Embrapa Milho e Sorgo, trabalho no aprimoramento das práticas de produção com o objetivo de tornar viável a fabricação do produto em questão. Acredito que a pesquisa ajudou a encurtar a distância entre empresa e Universidade”, completou o biomédico.
Núcleo de Inovação Tecnológica
De acordo com a pesquisadora e também coordenadora do Núcleo de Inovação Tecnológica – NIT/UFTM, Mônica Hitomi Okura, a primeira etapa do projeto de pesquisa foi concluída, mas a parceria entre a Universidade e a empresa permanece. “Surgem constantemente novas propostas para solucionar ou melhorar necessidades da empresa. Assim, o contrato acabou se estendendo. Com as novas necessidades, o NIT procura sempre novos professores que queiram e possam ser vinculados ao projeto. Primeiramente, o Núcleo verifica as necessidades do empresário, conversa com alguns professores que estejam trabalhando na área, solicita uma reunião entre as partes e depois ajuda a elaborar um contrato para fechar a parceria”, explicou a coordenadora.
Ainda de acordo com Mônica, após a conclusão da pesquisa, o NIT auxiliou o grupo na elaboração de termo de segredo industrial, estratégia para preservar a natureza confidencial de uma informação e evitar que seja divulgada, adquirida ou usada por terceiros não autorizados. O uso da estratégia comercial de proteção de ativos intangíveis, envolvendo o segredo industrial, garante à empresa o direito de exclusividade, mas não configura o direito sobre a propriedade desse bem intelectual. “O NIT elaborou o termo de sigilo para todos os participantes da equipe de trabalho. A decisão do empresário no segredo industrial foi de proteger seu processo de produção industrial por tempo indeterminado, ao invés do período de uma patente”, completou a coordenadora do NIT.
Vantagens em se utilizar o segredo industrial:
- Não há custos para registro;
- Não há necessidade de tornar a tecnologia pública, como no caso da patente;
- A duração do monopólio é ilimitada (enquanto o segredo existir);
- O efeito é imediato.
Matéria publicada no jornal UFTM em Notícias - Acesse
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