Biomédico do HC-UFTM publica descoberta sobre a estrutura populacional de Cryptococcus neoformans
Pesquisa realizada entre 2014 e 2016 analisou o sequenciamento genético de fungos causadores da meningite a partir de amostras coletadas nos cinco continentes. Os resultados revelam que as cepas encontradas em todo o mundo podem ser divididas em apenas dois grupos filogenéticos distintos - dado até então desconhecido no meio científico.
O estudo foi desenvolvido na Universidade de Sydney, Austrália, e teve como pesquisador principal o biomédico Kennio Ferreira Paim, que é doutor em Medicina Tropical pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro e faz parte da equipe de trabalho do Laboratório Central do Hospital de Clínicas da UFTM, em Uberaba/MG.
Ferreira-Paim desenvolveu a parte experimental do estudo como bolsista de pós-doutorado da Capes e recebeu a colaboração de pesquisadores australianos e de países como Estados Unidos, Itália, Tailândia, Holanda e Reino Unido, além de brasileiros da UFTM, da Fundação Oswaldo Cruz, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e da Universidade Federal do Piauí.
“Os colaboradores atuaram fornecendo amostras de DNA do fungo e avaliando o resultado final do seu sequenciamento. A Universidade de Sydney possui o maior banco de dados do mundo sobre o assunto. Com a ajuda dos pesquisadores de outros países, foram reunidas 323 amostras. 143 delas foram coletadas no Laboratório de Micologia da UFTM entre os anos de 1998 e 2014 e a maioria é proveniente de pacientes de Uberaba e da região Sudeste brasileira”, informa Ferreira-Paim.
Na UFTM, os estudos com Cryptococcus se iniciaram há quase 20 anos em uma parceria do Laboratório de Micologia, Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias e Pós-graduação em Medicina Tropical e Infectologia. O pesquisador faz parte do grupo desde 2005 e desde então tem se dedicado ao estudo de infecções fúngicas.
Pioneirismo
De acordo com o biomédico, a separação do Cryptococcus em dois grandes grupos é um achado importante no campo da filogenética e pode servir como base para o desenvolvimento de futuras pesquisas com interface entre a Biologia e a Medicina.
Resultam da investigação, adicionalmente, indícios de que a origem do microrganismo seja na África, onde as cepas encontradas apresentam maior variabilidade genética. As amostras dos demais continentes seriam derivadas das cepas africanas.
Já o cruzamento de dados dos pacientes com informações genéticas dos fungos restringiu-se à amostra brasileira, reforçando a relação entre a aids e o desenvolvimento de meningites com alta letalidade. Trata-se do primeiro estudo no Brasil a correlacionar o perfil dos pacientes e o sequenciamento genético em larga escala desta espécie causadora de meningite.
“Mais de 95% das fontes de amostras, em Uberaba e região, apresentavam infecção por HIV e células de defesa - CD4 - inferiores a 200 por mm³. Os demais 5% eram transplantados ou estavam em tratamento de câncer. A infecção por Cryptococcus, em geral, resulta da aspiração de partículas sólidas provenientes de fezes de pombos e pode ficar latente durante toda a vida, mas tende a se manifestar em indivíduos gravemente imunodeprimidos”, o pesquisador explica.
Letalidade
A taxa de óbitos por meningite observada no recorte de pacientes brasileiros foi de 58,9%, enquanto nos países desenvolvidos essa letalidade fica abaixo de 30%. “Os dados demonstram que o paciente com infecção por HIV avançada, sem tratamento antirretroviral, fica muito vulnerável à meningite. É preciso incentivar o diagnóstico precoce, para que os soropositivos possam iniciar o tratamento e evitar a evolução para a aids, prevenindo-se de doenças oportunistas”, adverte o biomédico.
Os resultados da pesquisa foram publicados na mais recente edição da revista PLOS Neglected Tropical Diseases, periódico científico com classificação Qualis A2 na área de Medicina, tendo alcançado, nos dois primeiros meses, mais de 1.700 acessos na internet.
Também assinam o artigo outros pesquisadores do Departamento de Doenças Infecciosas da UFTM: Mario Leon Silva Vergara, Leonardo Andrade Silva, Thatiana Ferreira, Delio Mora, Juliana Andrade Silva, Andre Maltos e Virmondes Rodrigues Junior, além de Fernanda Fonseca, da UFPI; Eduardo Reis e Margarete Almeida, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto; Luciana Trilles e Marcia Lazéra, da Fundação Oswaldo Cruz; e os pesquisadores estrangeiros Volker Rickerts, Ariya Chindamporn, Jane Sykes, Kirsten Nielsen, Massimo Cogliati, Teun Boekhout, Matthew Fisher; Aziza Khan, Aiken Dao, June Kwon-Chung, David Engelthaler e Wieland Meyer.
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Fonte: Unidade de Comunicação HC-UFTM
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